repaginando o tempo, o espaço, reformulando as idéias, os pensamentos que na realidade fina e cruel em que vivemos, nunca de fato mudaram. a mutação, antes de mais nada deve ser aceita como uma forma alternativa do mesmo e sendo o mesmo algo semelhante ao que o sinônimo representa, a mudança deve ser no fim um sinônimo do idêntico.
as camadas quase simplistas, os tons claros aborrecem de uma forma ímpar. tudo sempre aborreceu meu ânimo, guardou em tantos e tão poucos momentos uma forma aguda de serenidade que em todo não responde à qualquer padrão, apenas é e desejo tão maior que é o de não ser aborrecida novamente paira ainda seco no ar como se esperasse por qualquer coisa que o retirasse desse limbo pouco original, afinal quando o tempo custa a passar sei que a culpa é minha.
enquanto resolvia a questão das cortinas - a questão das cortinas me trazia de volta ao incrível paradoxo do ser cruelmente incluso em uma sociedade primitiva que bate no peito e gosta de aceitar uma tal de palavrinha muito mal resolvida que se parece com algo parecido com 'avançado' - truncava o resmungo e o ar de finesse duelando dentro de mim mesma e comigo mesma a indagar em voz pouco fanhosa 'porque você queria mesmo essa cor?', claro que a resposta era vazia e um tanto muda, a resposta era nula.
as cortinas cantavam triunfantes, sim afinal elas haviam vencido, eu havia sucumbido a qualquer coisa racional e moderna, civilizada e de reputação bem falada por todas as praças sem ao menos abdicar do que julgava ser meu por mérito: minha falta de honesta vontade de me enturmar a um grupo qualquer que infelizmente não vivia além do meu alcance. não. nunca abdiquei de quem era por aquelas cortinas, nunca resumi motivos - sempre digeri fortunas - mas nunca aceitei uma derrota que não fosse uma derrota desejada.
sim, porque a derrota a que me refiro é a da certeza inflamada, pois sempre sei quando de fato o ganhar não se refere necessariamente a quem ou o que chegará em primeiro lugar. engraçada a nossa noção de precedência no tempo quando o tempo é aquilo que não pertence a ninguém e muito menos é qualquer coisa ou entidade. o que vem em primeiro lugar nunca é tangível, não em minha percepção refutável de vida.
mas, iremos conversar sobre isso mais tarde.
voltemos às cortinas, pois não?
as cortinas venciam. com suas finas e trançadas texturas, minhas mãos mais do que delicadamente reformulavam seus corpos sobre o novo par de janelas por onde a partir daquele instante viveriam até o derradeiro fim desse relacionamento que, desde o começo, parecia ser mais do que algo casual: as cortinas me esconderiam de um mundo viscoso, venenoso e atrasado com o qual nada tinha de próximo a quem eu parecia ser - até então.